A ideia de as comemorações do 25 de abril começarem no primeiro dia em que a democracia ultrapassa a duração da ditadura, é boa. Tem um significado. Bem como é uma boa ideia durarem para lá de 25 de abril de 2024, para assinalarem a importância das primeiras eleições democráticas e a aprovação da Constituição. Faz sentido. Isto porque pensar que o nosso regime democrático é um dado adquirido, certo e perpétuo é um erro. O sentimento e o gosto pela Liberdade é algo que se educa e que tem que ser cuidado. Mas aqui chegados, o governo decide estragar tudo. Uma arte na qual o governo se tem mostrado mestre! Basta ler a Resolução do Conselho de Ministros n.o 70/2021 para ter um retrato daquilo que tem precisamente minado e enfraquecido a nossa democracia, que leva muitos a questionar este regime e os seus compadrios. Que põe em causa os partidos políticos e que leva as pessoas a ficarem fartas.
Para organizar as comemorações, é criado um verdadeiro “ministério” com o comissário, um comissário adjunto, uma equipa técnica com oito elementos (motorista e secretária), podendo ainda juntar-se a esta mais quatro técnicos superiores em regime de mobilidade. Só aqui já vamos em catorze pessoas! Fora o apoio administrativo e logístico. Todos remunerados, instalados e com o respetivo estatuto. Todos indicados pelo governo, claro está. E agora a melhor parte: tudo isto para adjudicarem os trabalhos aos profissionais especializados que realmente sabem conceber, planear e montar eventos desta dimensão (as agências de comunicação, produtoras, entre outros).
É esta estrutura política que choca, num país pobre e no meio de uma crise! Uma invenção de cargos e benesses para boys e clientela política. O tema não é ser Pedro Adão e Silva o comissário executivo, que por razões óbvias não é consensual, nem se devia ser remunerado. O tema é se não haveria, na estrutura do maior governo de todos os tempos, ninguém para o assessorar? Claro que haveria! Ou em outros organismos públicos? Claro que sim! É este modo de tratar e de se servirem do nosso dinheiro que tem de acabar. Salvar a Democracia e comemorar a Liberdade é pôr fim a este modus operandi de despesismo.
*Nuno Pereira da Cruz,
Sócio Fundador
Artigo publicado no Dinheiro Vivo