A escolha literária de Telmo Semião na revista Advocatus

Telmo Semião, sócio da CRS Advogados, marca presença na revista Advocatus, na rubrica literária e explica, desta forma, porque motivo a sua escolha recai em Mario Vargas Llosa, com o seu “A Civilização do Espetáculo”:

“Mario Vargas Llosa é, para mim, um dos melhores escritores da atualidade. O livro que escolhi – “A Civilização do Espetáculo” –, embora não seja o mais recente do escritor, espelha bem a realidade a que assistimos hoje em dia, nomeadamente na cultura do imediatismo e do espetáculo.

Neste ensaio literário, Vargas Llosa revela-nos, da forma sublime a que já nos habitou, as suas reflexões sobre a sociedade atual, a crise de valores, a banalização das artes e da literatura, o triunfo do jornalismo sensacionalista e a frivolidade da política. Uma das ideias que Llosa partilha com os leitores é a de que a política foi substituindo cada vez mais as ideias e os ideais, o debate intelectual e os programas, pela mera publicidade e pelas aparências.

Consequentemente, a popularidade e o êxito conquistam-se não tanto pela inteligência e pela probidade, mas sim pela demagogia e pelo talento histriónico. Um dos aspetos que me chamou a atenção é a ideia de que a justiça deveria fixar os limites a partir dos quais uma informação deixa de ser de interesse público e transgride o direito à privacidade dos cidadãos. Recordo, a este propósito, as cirúrgicas fugas de informação (e, não raras vezes, através da violação do segredo de justiça) a que assistimos nalguns processos mediáticos que condenam na praça pública arguidos que, em muitos casos, acabam por ser absolvidos nos processos judiciais. O problema é que na data em que for conhecida a decisão absolutória já é tarde demais e a publicidade dessa sentença não permite limpar a imagem da condenação anterior feita nos media.

Segundo Llosa, a raiz deste fenómeno está na cultura. Melhor dizendo, na banalização lúdica da cultura reinante, em que o valor supremo agora é divertir-se e divertir, acima de qualquer outra forma de conhecimento ou ideal. As pessoas abrem um jornal, vão ao cinema, ligam a televisão ou compram um livro para passar o tempo, no sentido mais ligeiro do termo, e não para martirizar o cérebro com preocupações, problemas, dúvidas. E é esta forma de estar na vida que proporciona o surgimento da imprensa sensacionalista, a qual nasce corrompida por uma cultura que, em vez de rejeitar as intromissões grosseiras na vida privada das pessoas, reclama-as, pois esse passatempo de farejar a sujidade alheia torna mais suportável a jornada do empregado pontual, do profissional enfastiado e da dona de casa cansada.

Esta visão nua e crua que Llosa nos revela neste livro sobre a civilização de espetáculos fúteis, sensacionalistas e deprimentes pode ser considerada exagerada por alguns leitores, mas tenho a certeza que não deixará ninguém indiferente.”

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Mario Vargas Llosa; “A Civilização do Espetáculo”